Reportagem publicada em 2005 - Jornal Notícias da Manhã
Chegar a Sintra, ou ao Monte da Lua, como também é
conhecida, é como entrar noutra dimensão, noutro tempo, noutro mundo. Além da
herança preciosa de cargas históricas e edifícios seculares, quem passa pela “vila
mais romântica de Portugal”, deslumbra-se com o ar que se respira, com o som do
vento e com o rosto que ganham as velhas árvores. Contudo, bem na entrada
daquela localidade existe um lugar carregado de magia e de beleza mística, que
há cerca de 20 anos retrata a história da generosidade da natureza – um local
apelidado de Museu do Bonsai
Com a Serra de Sintra como cenário apelativo, o Museu do
Bonsai, situado na estrada Chão de Meninos, transmite calma, paz, e ao mesmo
tempo, uma energia gratificante a quem o visita, pela primeira vez, ou a quem
opte por torná-lo um sitio de referência. Neste espaço, ao som de música
oriental, os visitantes têm à sua disposição centenas de bonsais, de diversas
espécies (laranjeiras, pinheiros, entre outros), rodeados por belos jardins,
por um lago e por uma cascata onde o murmurinho da água enfeitiça os ouvidos de
qualquer um. A ideia de um centro inovador e relaxante partiu de ideia de Marco
Rodrigues, um sintrense com raízes moçambicanas. “Tudo surgiu de uma forma
involuntária. Há 20 anos, eu e o meu pai fundamos um centro de jardinagem”. Com
o passar do tempo, movido pela curiosidade, Marco começou a importar da Holanda
pequenas quantidades de Bonsais. A curiosidade deu lugar à paixão e através da simpatia
sentida pelas “árvores em vaso” (tradução da palavra bonsai), Marco passou a
receber mais quantidades. “Começamos com uma prateleira, depois seguiu-se uma estufa
pequena e mais tarde um jardim”. Há cinco anos, o adepto da arte de Bonsai,
tomou uma opção que viria a mudar a sua vida. “Foi precisamente a 1 de Janeiro
de 2000 que o meu pai passou-me por completo o centro. A partir desse momento,
comecei a dedicar-me inteiramente aos bonsais”. Inspirado na sua criatividade e
na sua imaginação, o proprietário do museu resolveu torna-lo num espaço mais
atraente. “Há dois meses remodelei o centro. Para tal criei uma queda de água,
um lago, e jardins, elementos que completam a beleza artística dos bonsais”,
conta.
Mas afinal o que são as
chamadas “árvores em vaso”? “O bonsai é tal e qual o que há na natureza. São
árvores em ponto pequeno e tudo o que há de arvores há em bonsai”. Porém o seu
significado espiritual é bem maior. Na tradição chinesa e japonesa ter um
bonsai em casa representa levar para o lar os bons fluidos. Apesar de os
portugueses “irem muito em modas”, para Marco o principal motivo que leva as
pessoas a comprarem este tipo de árvore é pela paz que comunicam. “As pessoas adquirem
este tipo de arte devido ao relaxamento que transmite, mas também, porque podem
assim ter um bocadinho da natureza em suas casas”, explica. Porém, a energia, a
paz e a beleza que aquele espaço difunde são os elementos chave do sucesso
deste centro pitoresco. “Tenho aqui clientes que vêm para cá aos fins-de-semana,
passando o dia inteiro a cuidar dos nosso bonsais, é sem dúvida uma forma de
aliviar o stress”, conta entusiasmado.
No museu os preços variam de acordo com a espécie e idade do
bonsai, havendo para todos os gostos e carteiras. “Temos bonsais de 10 euros
até sensivelmente aos 20 mil euros. As sementes rondam os 4 euros”.
Ar e Água - elementos fundamentais
Como reflexos da natureza, os bonsais necessitam de ter
cuidados essenciais como o ar e a água. “Há aqueles que vêm dos países tropicais
que não podem apanhar neve, gelo e ventos frios. Depois existem os bonsais
originários do norte do Japão, da Europa, (típicos bonsais do exterior), que já
estão habituados a estas alterações climatéricas”. Apesar de esta arte requerer
muita dedicação e paciência, Marco exalta que qualquer pessoa pode ter um
bonsai. “É necessário saber que precisam de arejamento, quando a terra começa a
ficar clara é um indicio que necessitam de água, sendo mais fáceis de cuidar do
que qualquer tipo de planta”, salienta, acrescentando que um dos pontos fundamentais para a sua manutenção
refere-se à escolha do local onde será mantido.
Para além destes cuidados, os bonsais existentes no museu
estão livre de vitaminas e de outros tratamentos líquidos, pois segundo o proprietário
as vitaminas viciam-nos levando à morte. “Na natureza as árvores alimentam-se
de matéria natural sendo unicamente esses elementos naturais que damos aos
nossos bonsais”.
O seu museu de valor inestimável, é para Marco muita mais do
que um simples trabalho, é uma paixão, um gosto, uma arte viva correspondendo a
uma fonte inesgotável de inspiração e meditação. “É uma arte milenar que me
acompanhará até ao fim da minha existência”, conclui.
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